domingo, 27 de setembro de 2009

UM DIA PELA VIDA

Falar de cancro é, ainda nos dias de hoje, um tabu. Mas se há algo que aprendi com a minha experiência enquanto voluntário da Liga Portuguesa Contra o Cancro e como profissional de saúde foi que esta doença é altamente democrática e transversal. O cancro não se restringe à esfera do indivíduo; afecta, inevitavelmente, a família e toda a sociedade. Camuflá-lo não é, de todo, uma opção válida. Enfrentar esta enfermidade passa invariavelmente pela sensibilização de todos.
O projecto “Um Dia Pela Vida” imprimiu uma nova dinâmica às actividades do Núcleo Regional da Madeira da Liga Portuguesa Contra o Cancro e envolveu todos os seus colaboradores de uma forma apaixonante. No que concerne à formação da população, área a que me dediquei particularmente, posso referir que os objectivos foram alcançados. Fomos ao encontro das pessoas e estivemos em eventos relevantes realizados na Região. Marcámos a nossa presença em exposições, em centros de grande afluência, passámos por centros comunitários e não nos coibimos de falar de cancro na noite madeirense. Estivemos perto da população com a esperança de que pessoas mais informadas serão mais capazes de combater o cancro.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Religiões

"... os epifenómenos primários da fundação de qualquer religião são a produção e o desenvolvimento da hipocrisia, da megalomania e das psicopatias, e as primeiras vítimas do estabelecimento de um religião são as verdadeiras intenções do seu fundador. Podemos imaginar Jesus e Maomé, carrancudos, a compararem as suas notas no Paraíso, coçando as cabeças e lamentando os seus inúteis desperdícios em esforço e sofrimento, que apenas resultaram na contrução de dois monumentais sepulcros caiados."

Louis de Bernières (2009) - "Pássaros sem asas"

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Metamorfose

Aprender é difícil, doloroso e por vezes constrangedor.
Aprender é estruturar-se, é eliminar erros e focar-se no pormenor.
É estar atento a tudo, é estar disponível, é querer.
Aprender é ter energia, é ter uma força anímica maior que os obstáculos.
Aprender é reorganizar-se, é sofrer, é vibrar com o êxito e estar preparado para a próxima falha. Aprender faz-se andando a passo lento, descobrindo-se o caminho todos os dias; caindo dia sim, dia não.
Aprender é hesitar, voltar a trás, fazer de novo. É bater com a cabeça na parede.
Aprender implica humildade, perspicácia, alguma audácia.

Ainda não aprendi o que tenho para aprender.
Talvez não o consiga.
Talvez venha a ser mais fácil do que imagino.
Talvez não seja nada daquilo que espero.

domingo, 10 de maio de 2009

Terça-Feira

Não há dias iguais aos outros. A cada momento tudo se transforma, transfigura. Contudo, há fracções de segundo que não se esquece, que não se volta a viver. Não há pontos de retorno. A vida corre certa, sem dúvidas ou quaisquer arrependimentos. Corre numa única direcção, sem se deixar perturbar pelas nossas dúvidas, inseguranças ou afectos pelo passado. Há quem fale em destino ou fado, mas eu ainda não decidi se acredito em tal coisa. Ainda é cedo para deixar de acreditar na eficácia do meu livre arbítrio.

Segunda-feira será, muito provavelmente, um dia marcante. Representa o início de uma nova vida para mim – vou abraçar a minha profissão. Mas Terça-feira já terei passado pelo primeiro impacto e ainda terei toda uma vida pela frente…




Foto by Me1ras

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Não sei

Entre o livre arbítrio e o fado
Entre o segundo e a eternidade
Não sei quanto de mim viverá
Quanto de mim será imortalidade

Entre o certo e o extraordinário
Entre a rotina e o espanto
Não sei o que de mim perpetuarei
O que de mim te trará encanto

Entre o júbilo e a melancolia
Entre o remorso e a convicção
Não sei quanto de mim foi inteiro
Quanto de mim foi paixão


Foto by Me1ras

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O estranho caso de Susan Boyle

Dizem que todas as histórias têm uma lição de moral… De outra forma, para que serviriam? Há sempre o que aprender, o que descobrir.
O caso que venho partilhar, para além de ser verídico e de já ter corrido o mundo, encerra um ensinamento a absorver. Por mais que a conclusão a retirar deste episódio pareça óbvia, os intervenientes desta história só se apercebem do seu erro depois de já terem julgado Susan Boyle erradamente.
Afinal, quem é ela?! Trata-se de uma senhora de 47 anos, gordinha, de sobrancelhas grossas e olhos pequeninos, com sentido estético questionável. Diz nunca ter sido beijada e, aparentemente, tem como companheiro um gato.
Susan, desempregada, decide tentar a sua sorte no concurso “Britain’s got talent”. O caso não seria estranho se, mesmo antes de abrir a boca, todos duvidassem do seu talento vocal. A verdade é que canta maravilhosamente e surpreendeu a todos. Ninguém a tinha conseguido ver…
Hoje, Susan é um sucesso e todos a adoram. Talvez pela admirável voz, talvez por verem um pouco de si na Sra. Boyle…
Às vezes só vemos o que queremos e não o que podíamos…

quarta-feira, 22 de abril de 2009

"Um Dia Pela Vida" - Celebrar. Recordar. Lutar.

Um evento único e que chegará brevemente ao Funchal!
Descubra-o!

terça-feira, 21 de abril de 2009

"Gaivota"

Uma música de Amália, agora interpretada por Sónia Tavares, no âmbito do projecto "Amália Hoje". Simplesmente Fantástico!

"Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração"

Alexandre O'Neill


quinta-feira, 26 de março de 2009

Verdade sobrevalorizada

Ouvi a expressão “verdade sobrevalorizada” numa série de ficção de que gosto particularmente. A personagem despejava estas palavras depois de perceber que todas as suas certezas, que as verdades que lhe pareciam certas, não teriam necessariamente impacto no futuro. E, logo ali, começou a surgir-me uma cascata de ideias. Tempos atrás, diria, muito seguro de mim, que a verdade é um valor intocável, inviolável. Até aperceber-me que, na minha hierarquia de valores, a verdade é fundamental, mas não vem em primeiro lugar. Descobri que verdade e integridade não são sinónimos. A primeira move-se dentro da esfera da segunda, mas não a determina. A “verdade absoluta”, ninguém a conhece: enxergamos a realidade através da reduzida perspectiva que a condição humana permite. Além disso, há verdades que magoam e há as que são completamente inúteis. De que serve a mais pura verdade, se me coloca numa situação desconfortável e não me traz nenhum benefício? Assente nestas premissas, parece-me que a verdade deve aliar-se ao bom senso, à responsabilidade, às consequências e aos benefícios que trará. As probabilidades são, também elas, verdades. Contudo, não serão verdades ingratas?! 95% de probabilidade de insucesso – com esta esmagadora probabilidade, quem consegue agarrar-se à verdade dos 5%. Não gostaria de parecer leviano, de transmitir que aprovo ou incentivo a mentira, mas não será a verdade sobrevalorizada?

Não há maior verdade do que aquela que atesta a incontrolável contingência da realidade.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Há imagens que valem mais do que qualquer palavra

Estive afastado por algum tempo, mas ideias continuam soltas! Estou de volta e trago comigo esta foto! Trata-se do Funchal, a minha cidade!

Abraço, até breve!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Solidão dos idosos - Excerto de uma reflexão enquanto aluno de enfermagem

(...) São inúmeros os exemplos de idosos que vivem sós ou que passam grande parte do dia sem ter com quem falar. E se a saúde física muitas vezes lhes foge, pelas maleitas que lhes atacam o corpo, o que é feita da saúde mental destas pessoas que (sobre)vivem por conta própria?

Há um tempo atrás, (...), perguntei a um simpático casal de idosos como se sentia, ao que me responderam: “velhos”. Como assim, velhos? Será a velhice um peso assim tão grande, capaz de definir aquilo que sentem e os seus problemas? Vi-me imediatamente obrigado a perguntar-lhes se não viam na velhice nenhum benefício. Então e a sabedoria, a experiência? Certamente que houve coisas que mudaram: a imagem no espelho não é a mesma; a energia, se calhar, diminuiu… Mas, em contrapartida, surgiram outras alegrias: os filhos, os netos e, às vezes, os bisnetos. E mesmo assim, a velhice continua a ser uma etapa da vida marginalizada, confinando muitas vezes os idosos à solidão (...)

sábado, 17 de janeiro de 2009

Círculo fechado

Não há vida humana que seja livre
Nem no rebordo da carne
Nem no âmago do espírito
Não há lei mundana que não limite
Qualquer ideia de evasão
Qualquer hino à revolução
Não há quimera que não se vergue
À provinciana sabedoria
À opressiva, medíocre maioria
Não há quem ame uma alma irrequieta
Quem a deixe em paz, quieta

Se do umbilical todos se soltam
Do cordão social ninguém se liberta
Photo by Me1ras

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Não me escrevas poemas

Odeio essas malditas rimas
Como lutas com as palavras
Como as esgrimas
Parecem-me algemas
Esses malditos poemas

Parece-me tão hermética
Essa maldita prisão
Essa miserável métrica
O que eu quero é prosa
Uma escrita pura e deliciosa

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Da “Pérola do Atlântico” à “Terra do Sol Nascente”

O texto que se segue foi escrito há muito tempo, contudo, retrata uma viagem que me marcou...

A “terra dos pauzinhos” e “dos olhos em bico” sempre fez parte do imaginário de todos nós.
(…), as malas estavam prontas (...) Entrámos no avião e a odisseia até ao Oriente começava. É claro que existiram as longas horas dentro de aviões e as intermináveis esperas em aeroportos. Mas tudo foi recompensado quando observámos, a partir da janela do avião, uma terra pincelada de tons de verde e azul.

As nossas férias começavam a ser perfeitas… No entanto, fomos confrontados com costumes e maneiras de ser completamente diferentes das ocidentais. E se dissesse que a adaptação foi fácil estaria a mentir. Contudo, todas as dificuldades, que iam desde o comer até ao tirar os sapatos à entrada das casas, foram superadas largamente por tudo o que existiu de bom nesta viagem.

Uma das experiências que mais me agradou foi a visita a um templo budista. Aqui, as portas de uma das salas, que transpiravam tranquilidade e simplicidade, eram feitas de papel. O santuário, contrastando com esta leveza, era rude, com uma arquitectura mais agressiva, com enormes colunas douradas suspensas no ar. Era um local intrigante, capaz de nos transportar até uma outra dimensão, era realmente um espaço cheio de história e de mistérios. O cheiro a incenso andava no ar… e foi aqui, na “casa do buda”, que fizemos meditação: uma experiência nova que nos faz esquecer o mundo à nossa volta.

As visitas a museus foram outro ponto forte da nossa passagem por terras nipónicas. Cada museu tinha um assunto mais interessante que o anterior.

O mais importante de toda esta aventura foi o facto de todos nós termos sido “adoptados” por famílias japonesas, que nos acolheram em suas casas. Assim, deixámos estas nossas vidas ocidentais e entregámo-nos aos pauzinhos, às salas sem sofás, às comidas típicas, às camas no chão, ao Ohayoo gozaimasu (bom dia) de todas as manhãs, ao Sayoonara de todas as despedidas, enfim…, a nossa vida passou a ser regida por costumes japoneses. E tudo isto foi uma fonte de saber e conhecimento que nos permitiu trazer para a Madeira uma bagagem maior, mais rica e com mais amizades.

Era impressionante a calma das gentes e a simplicidade de cada um.

É indescritível tudo o que aprendemos e vimos em 15 dias. Fomos bombardeados com acontecimentos, locais e objectos inimagináveis. As cidades desenvolvidas eram um regalo para os olhos: os prédios gigantescos, milhares de lojas, os comboios de alta velocidade, a multidão… Mas em contraste, existem as típicas casas de madeira plantadas junto aos arrozais, entre as montanhas e o mar. Podíamos sentir o que a natureza tem de mais belo: o chilrear dos pássaros, o vento a lutar com a copa das árvores e a embalar as plantas de arroz…

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Profusão de Sensações: O Natal invadiu a minha cidade!

O Funchal, como qualquer bom anfitrião, vestiu-se a rigor para a maior festa do ano e não deixou ninguém indiferente. Perfumou-se com essências de pinheiro, de castanhas assadas e da típica carne, vinho e alhos. As suas ruas iluminaram-se: as empertigadas luzes, que vão do azul ao vermelho, passando pelo dourado, treparam as árvores, debruçaram-se sobre as ribeiras e instalaram-se em muitas casas!


As pessoas, agora, passeiam-se com alguma calma, procurando sorver um pouco da extravagância de cor que a “cidade de funcho” lhes proporciona: em cada esquina encontram-se Pais Natal carregados de balões, presépios e barraquinhas recheadas de sabores tradicionais. Os estrangeiros, que nesta época nos visitam em grande número, surpreendem-se a cada instante, retêm o olhar em cada pormenor e não dão descanso as máquinas fotográficas.


Ontem, debaixo de um céu ameaçador, arrisquei-me e desci até ao Mercado munido de boa disposição, óptima companhia e, claro, de um casaco impermeável. Apesar, do tempo pouco favorável, as pessoas não quebraram a tradição e aventuraram-se nas compras de última hora. O interior do mercado estava um regalo para a vista: de todos os lados explodiam cores! As barracas estavam carregadas de frutas viçosas e de flores luxuriantes. Já na praça do peixe, as pessoas reuniram-se para entoar os cânticos de Natal. Abençoados pela chuva, todos os que lá foram (ricos ou pobres), deixaram-se levar pelo espírito da época…


Um Feliz Natal!

ROMARIA DE NATAL

"CEBOLAS SEMILHAS, TAMBÉM BATATINHAS
PIMENTAS E ALHOS, GALOS E GALINHAS;
OVOS E TRIGO, LARANJAS CUSCUS
FOI O QUE TROUXEMOS, DESCULPA JESUS"

Feliz Natal!


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Vidas - excertos de uma reflexão acerca da minha experiência enquanto aluno de enfermagem

No dia-a-dia tenho o privilégio de contactar com um grande número de pessoas, todas elas diferentes e com percursos de vida únicos. E é esta riqueza de experiências, esta miscelânea de gente e gentes, que contribui para o meu crescimento, muito mais que académico, pessoal.

Do lado de lá da secretária já se sentaram tantas pessoas, cada uma com o seu acervo de histórias, tão ricas quanto possível. A maioria delas, talvez pelo fado que nos é característico, tem um enredo saturnino e mostra, muitas vezes, um lado menos bonito. Contudo, neste estágio cruzei-me com um conjunto de vidas tão diverso, tão eclético, que por vezes senti dificuldade em dar resposta à montanha-russa de emoções com que me deparava num só dia. Sorri perante vidas acabadas de nascer; fiquei enternecido com outras, igualmente novas de espírito, mas longas na soma das décadas; vezes houve, também, em que fiquei chocado.

Do lado de cá da secretária senta-se, também, uma vida com algumas histórias e muitas incertezas. Esta pessoa que os utentes vêem é diferente daquela que encontraram nas primeiras semanas de estágio e está irreconhecível quando comparada com a que entrou para o curso de Enfermagem há uns anos atrás. O contacto com tantas histórias fez-me amadurecer e deixei, forçosamente, de ver as coisas a preto e branco. Tive de aprender a conviver com a incerteza, a contemplar as áreas mais cinzentas da vida. Ao ímpeto da adolescência seguiu-se uma maior maturidade e, hoje, o que me parecia absoluto ficou completamente oprimido pela esmagadora relatividade das vidas que fui observando.

Como é que se lida com tamanha roda-viva de pessoas, ideias e hábitos? Não sei explicar ao certo… Ao longo da minha aprendizagem, tive de reanalisar a minha postura, as minhas ideias, até mesmo, alguns preconceitos.

Considero que o mais importante de tudo foi dar oportunidade aos utentes de partilhar o seu saber, a sua experiência, as suas vidas. Os verbos “explicar”, “informar” e “orientar” deram primazia ao “ouvir” e a relação com estes ganhou uma nova dimensão. Certamente, existem lacunas por colmatar, até porque, a relação com os utentes não se dá maquinalmente e cada nova vida com que me deparo é uma nova história que começa.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Descrente?

A minha fé está ladeada por uma razão transcendente, por um cepticismo fervoroso. Não há Inferno que me intimide ou Céu que nivele a minha conduta. Não há nenhuma punição que atenue os meus erros ou preces que me tornem melhor pessoa. Os meus actos de bondade são espontâneos e não se devem a qualquer mandamento. Talvez por isso não tolere “beatices”, fés hierarquizadas ou falsos pudores. Não camuflo a frágil condição humana com dogmas irreais, místicos ou transcendentes. Vivo contemplando a metafísica das pequenas coisas – do teu olhar, do teu sorriso…